Nesta semana, em nossa dobra com a aula de Leitura, lemos o belíssimo poema "Vozes Mulheres" de Conceição Evaristo. Ele também será utilizado como fonte para a prova da próxima semana, por isso, aqui vai o texto para uma leitura mais demorada.
Curtam aí! ;)
Vozes Mulheres
A voz de minha bisavó ecoou
criança
nos porões do navio.
Ecoou lamentos
De uma infância perdida.
A voz de minha avó
ecoou obediência
aos brancos-donos de tudo.
A voz de minha mãe
ecoou baixinho revolta
No fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado
rumo à favela.
A minha voz ainda
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue
e
fome.
A voz de minha filha
recorre todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engasgadas nas gargantas.
A voz de minha filha
recolhe em si
a fala e o ato.
O ontem - o hoje - o agora.
Na voz de minha filha
se fará ouvir a ressonância
o eco da vida-liberdade.
EVARISTO, Conceição.
In Cadernos Negros, vol. 13, São Paulo, 1990.
Fonte: Educação Pública.